Junho 2007


Aos deradeiro de Junho en segunda feira tomey o sol e ficey em 34 graos e 2/3 escasos. O vento foi toda esta sangradura athe oje pella menhã oeste e oessudueste e fresco e a noite bom, e como foi pella menhã foi acalmando casy calma tornou ao noroeste e nornoroeste e veo refrescando. A proa foi a leste e a quarta do sueste, a nao fez o caminho pella mea partida de lessueste, andou 23 legoas; oje, como o vento tornou ao nornoroeste, vou a leste porque a nao sempre ariba pera o sueste. O tempo esta claro, orizonte com bom sol com que os doentes convalecem alguma cousa. Do sul vem huma vaga de maree muito groça e cavada, a nao recebe a bem, e milhor a recebera se não fora hir toda a banda deste bordo com alarga das camaras dos oficiais que a levão toda adornada. Oje apareserão muitos bandos de borrelhos e pousadas na agoa, algum gaivotão e entenal e alguas corvas pretas e alguma de bico branco oje vierão 2 rollas, eu me não alcansey a vella curta, e dizem que virão cama de bertão. Dey nos Nosso Senhor boa viagem e a Virgem do Rozario Madre de Deos e Minha Senhora.

(via “Uma Viagem Redonda da Carreira da Índia (1597-1598)”, de Joaquim Rebelo Vaz Monteiro, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985)

Emissário do infante D. Henrique, participou numa expedição de Antão Gonçalves à região do Rio do Ouro, onde terá colaborado como intérprete na negociação de escravos.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

“O príncipe herdeiro morre na queda de um cavalo, em Santarém, desfazendo-se os sonhos de união ibérica sob égide portuguesa”.

(in suplemento da Revista Visão nº 371 – Abril de 2000)

Aos 29 do mes em domingo, dia do apóstolo São Pedro, tomey o sol e ficey em 34 graos esforçados. O vento foi noroeste ventante e claro e toda a noite esteve com a lua que foi oje chea. Vim governando a leste e a quarta de nordeste e ynda a nao qreseo em altura, dey a nao o caminho 39 legoas, a metade pello rumo e a metade pella quarta do sueste porque por aqui fez o caminho, oje mando governar a leste e não ginar nada ao nordeste por me meter en altura. O vento esta oje mais oeste e claro e venta bem, do sudueste ven huma vagua do mar larga. Apareserão oje muitas corvas, e algumas pequenas de biquo e algumas grandes e feijudas com o bico como amarelo, e muitos borrelhos e muitas sarilhas e alguns fejos. A doença não nos quer aparcar, mas antes cada dia ade cahirem e de recahyduras não ha convalescer. Lembre çe Nosso Senhor de nos e a Virgem do Rozairo Madre de Deos.

(via “Uma Viagem Redonda da Carreira da Índia (1597-1598)”, de Joaquim Rebelo Vaz Monteiro, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985)

Capítulo VI

Do modo do comer e beber dos Japões

1

Nós comemos todas as cousas com a mão;
os Japões, homens e mulheres, desde crianças,
comem com dous paus.

2

O nosso comer ordinário é pão de trigo
Os Japões arroz cozido sem sal.

3

As nossas mesas estão antes que venha o comer
postas;
as suas vêm juntamente com o comer da cozinha

4

As nossas mesas são altas e têm suas toalhas
e guardanapos;
as dos Japões taboleiros vruxados, quadrados, rasos,
sem guardanapo nem toalha.

5

Nós assentamo-nos em cadeiras para comer com
as pernas estendidas;
eles sobre os tatamis ou no chão com a pernas
encruzadas.

6

As suas ou todas juntas – ou em três mesas;
as nossas iguarias vêm poucas e poucas.[…]

11

Os homens em Europa comem ordinariamente
com suas mulheres;
Em Japão é cousa mui rara, porque também as mesas
são divisas.

12

A gente de Europa se deleita com pexe assado e
cozido;
Os Japões folgam muito mais de o comer cru.[…]

21

Nós lavamos as mãoes no princípio e fim da mesa;
Os Japões, como não põem a mão no comer, não
têm necessidade de as lavar.[…]

26

Antre nós se esfria o vinho;
Em Japão, pera se beber, quasi todo o ano se
aquenta.

27

O nosso vinho é de uvas;
o seu é todo de arroz.

28

Nós bebemos com uma mão;
eles sempre bebem com duas.[…]

38

Antre nós é grande injúria e descrédito embebedar-
-se um homem;
em Japão se prezam disso e perguntando:
‘Que faz o Tono?’ dizem: ‘Está bebâdo’.[…]

41

Nós fugimos de cães e comemos vaca;
eles fogem da vaca e comem lindamente os cães
por mezinha.[…]

(via “História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI – Literatura de Viagens – II” – Fundação Calouste Gulbenkian, Boletim nº 23, Dezembro de 2002 – a partir de “Europa/Japão – Um Diálogo Civilizacional no Século XVI”, Apres. de José Manuel Garcia; Fixação de texto e notas por Raffaella D’Intino, Lisboa, CNCDP, 1993)

Explorador da costa guineense (século XV). Escudeiro, depois de várias experiências nas praças do Norte de África, em 1444 participou na expedição do navegador Antão Gonçalves à costa da Guiné. Ali, não embarcou na viagem de regresso, ao que parece por sua vontade, dedicando-se a explorar durante vários meses o interior do território entre o rio do Ouro e o cabo Branco. Tinha sobretudo o objectivo de contactar com os povos locais e conhecer os seus usos e costumes, tarefa facilitada pelo facto de ter aprendido a língua árabe durante um período em que esteve preso pelos mouros. Quando foi recolhido por Antão Gonçalves, no cabo do Resgate, era portador de valiosas informações sobre o modo de vida das populações indígenas, a sua economia regional e a situação geográfica daquelas terras, tornando-se o primeiro português a fazer uma incursão terrestre durante a expansão portuguesa. Enriquecido com esta experiência, veio a ter um importante papel em contactos posteriores, participando como conselheiro em várias expedições dirigidas ao Noroeste africano.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

“Fica acordado o casamento do príncipe herdeiro Afonso com a infanta Isabel, filha dos Reis Católicos, o que permitirá a prazo a unificação peninsular sob um ceptro português. Regressado da Índia, Pêro da Covilhã atinge a costa oriental da África e estabelece-se na Etiópia”.

(in suplemento da Revista Visão nº 371 – Abril de 2000)

Aos 28 do mes tomey o sol e ficey em 34 graos menos 1/6. O vento foi noroeste e ventou bem pella menhã depois da lua se por abonançou, mas a proa se pos a leste e quarta de nordeste, e com levare por aquy a proa a nao montrepicou e fez o caminho da quarta do sueste e por ahy lhe dey o caminho 30 legoas. O vento esta tarde se tornou ao nornoroeste e por andar por aquy vou governando a quarta de nordeste porque as ribadas e o abatimento me vay metendo en altura. Oje veo huma vaga do mar larga do susudueste, o tempo esta oje bonançoso. Apareserão oje muitos borrelhos e não ha outra avaria, dois fejos, alguma corva grande de feixuda de bico branco. Lembre çe Nosso Senhor de nos e a Virgem do Rozairo Madre de Deos.

(via “Uma Viagem Redonda da Carreira da Índia (1597-1598)”, de Joaquim Rebelo Vaz Monteiro, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985)

Capítulo III

Do que toca aos meninos e a seus costumes

1

Os meninos em Europa andam trosquiados;
as de Japão até aos quinze anos sempre se lhe deixa
crescer o cabelo.

2

Os d’Europa andam muito tempo em cueiros
e com as mãos presas dentro neles;
os de Japão logo em nacendo lhe vestem quimões
e sempre andam com as mãos soltas.[…]

4

Antre nós ordinariamente mulheres grandes trazem
as crianças ao colo;
em Japão meninas muito pequenas andam quasi
sempre com as crianças às costas.[.. .]

9

Os nossos meninos aprendem primeiro a ler
e depois a escrever;
os de Japão começam primeiro a escrever
e depois aprendem a ler.[…]

13

Os nossos meninos têm pouco assento e primor nos
costumes;
os de Japão são nisto estranhamente inteiros,
em tanto que põem admiração.[…]

15

Os de Europa são criados com muitos mimos,
branduras, bons comeres e vestidos
;
os de Japão meos nus e quasi que de todos os mimos
e delícias carecem.

16

Os pais em Europa tratam os negócios
imediatamente com seus filhos;
em Japão tudo é por recados e por terceira
pessoa.[…]

(via “História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI – Literatura de Viagens – II” – Fundação Calouste Gulbenkian, Boletim nº 23, Dezembro de 2002 – a partir de “Europa/Japão – Um Diálogo Civilizacional no Século XVI”, Apres. de José Manuel Garcia; Fixação de texto e notas por Raffaella D’Intino, Lisboa, CNCDP, 1993)

Capitão da Índia (séculos XV e XVI). Alfaiate de profissão, chegou à Índia nos primeiros anos do século XVI, sendo suposto que tenha acompanhado Duarte Pacheco Pereira na defesa de Cochim. Após o regresso de Afonso de Albuquerque, terá tomado parte activa na tomada de Goa (1510) e na conquista de Malaca (1511), onde, por má sorte, foi deixado como prisioneiro. Durante o cativeiro, aprendeu a língua malaia e um pouco de siamês, ao mesmo tempo que ganhou a confiança do chefe local. Já em liberdade, Afonso de Albuquerque enviou-o como embaixador ao Sião, para onde seguiu num barco que levava produtos comerciais para a China, tornando-se assim o primeiro português a pisar as terras siamesas. Embora não haja muitos pormenores sobre a sua missão naquele território, sabe-se que a embaixada teve um considerável êxito junto do soberano, regressando Duarte Fernandes com presentes e uma carta destinados ao rei D. Manuel I. Ainda no Oriente, em 1537 capitaneou uma embarcação da armada de Martim Afonso, que enfrentou as forças do almirante Pat Marakar, e, já após o regresso a Portugal, foi nomeado tesoureiro do rei D. João III.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

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