Março 2007


Janela Indiscreta - Antena 1

O meu agradecimento ao Pedro Rolo Duarte, pelo destaque que ontem atribuiu ao Carreira da Índia, no programa “Janela Indiscreta” da Antena 1.

Pode ouvir o programa aqui.

Filipe IIFilipe II de Portugal (III de Espanha), nasceu em Madrid a 14 de Abril de 1578, falecendo também em Madrid, em 31 de Março de 1621; foi Rei de Portugal desde 23 de Setembro de 1598. Dos três Filipes que reinaram em Portugal é aquele de quem se conhece menos, sendo o menos estudado.

Era filho de Filipe II (de Espanha) e de Ana da Áustria, tendo herdado um poderoso Império, a maior potência da Europa à época; contudo, não sentiria grande apelo pelas questões governativas – chegando a ser considerado abúlico ou apático -, que delegou nos seus ministros, tendo alguns deles procurado reduzir Portugal à condição de província de Espanha, de que são exemplo o Duque de Lerma e Cristóvão de Moura (nomeado vice-rei de Portugal em 1600).

Com um reinado “à distância”, por um Rei ausente, Portugal – como que abandonado à “sua sorte” – assistiu, sem reacção apropriada, às investidas de franceses, ingleses e holandeses sobre as suas colónias, o que acabaria por traduzir-se na ruína do comércio marítimo português.

Apenas em 1619 visitaria Portugal, passando – numa estadia de menos de 6 meses – por Sintra, Cascais, Setúbal e Palmela, tendo em vista reunir as Cortes de Lisboa, em ordem a que o príncipe espanhol fosse aclamado como herdeiro do trono português.

O seu reinado ficou marcado pela recessão económica e pelo agravamento das relações entre Portugal e Espanha. Foi também nesta época publicada a terceira compilação de leis portuguesas, as “Ordenações Filipinas” – reformulando o direito português -, promulgadas em 1603, tendo vigorado até final do século XIX.

Com uma marcada faceta religiosa (teve por cognome, Pio), empenhou-se na expulsão de mouros, hereges e judeus. Em termos políticos, estabeleceria a paz com a Inglaterra (1604), com a França e com os Países Baixos, permitindo que os holandeses negociassem directamente com o Brasil.

(Imagem via Wikipédia)

Bibliografia consultada

“História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004

– “D. Filipe II”, por Fernando Olival, colecção Reis de Portugal, edição do Círculo de Leitores, em colaboração com o Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa, 2006

Novo Descobrimento do Gram Catayo, ou Reinos de Tibet

(ver texto integral)

(via Biblioteca Nacional Digital)

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Governador da Índia (?-1630). Filho de Diogo Botelho, notabilizou-se como capitão-general das armadas de alto bordo. Na Índia combateu em Surate, e, nas águas de Malaca, enfrentou e destruiu as forças do sultão de Achém.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

As gentes destas terras, posto que pertencem ao Rajá de Siranagar, são porém de outra casta; a linguagem é diferente: comem carne crua, e assi como vão esfolando o carneiro o vão comendo, principalmente toda a gordura que tem; e os nervos dos pés é pera eles o melhor bocado; as tripas, depois de mal enxaguadas na água, as fazem em bocadinhos, e assi as vão logo comendo; alguma porém cozem, mas não lhe esperam mais que a primeira fervura, dizendo que a carne muito cozida perde o sabor e substancia. Comem a neve como entre nós o pão ou dôce; vendo eu um menino de dous pera tres anos com um pedaço nas mãos comendo dele, me pareceu que lhe faria muito mal; mandei-lhe dar umas passas, que actualmente nos mandara dar o Rajá do Pagode, e que lhe tirassem das mãos o torrão da neve; tomou ele as passas, e começando a comer as botou fora logo, chorando pela sua neve; e assi meninos, grandes e pequenos, comem a carne crua e arroz, assi como vem de Lira, e outras sementes desta sorte; e com isto ficam muito fortes e sãos, bem fora das cólicas da Índia. Aqui lavram e semeiam as mulheres, e os homens fiam; estas trazem por jóias nas orelhas umas folhas como olas de palmeira, enroladas de maneira que representam dous fusos, que saindo das orelhas assim dereitos, lhes correm pelo rosto um palmo e meio de comprido.

Na última destas povoações, chamada Maná, estivemos alguns dias esperando que quebrassem as neves de um famoso deserto, que corre daqui até às terras do Tibet, que se pode passar em dous meses do ano sómente, não dando elas lugar nos outros dez a comércio algum. […] 

(via “História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI – Literatura de Viagens – II” – Fundação Calouste Gulbenkian, Boletim nº 23, Dezembro de 2002 – a partir de “Viagens na Ásia Central em Demanda do Cataio: Bento de Goes e António de Andrade”, Introd. e notas de Neves Águas, Lisboa, Publ. Europa-América, 1988)

Mercador (século XVI). Apontado como um dos descobridores do Japão (1542), com Fernão Mendes Pinto e Francisco Zeimoto.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Nesta cidade nos fizeram grandes exames de quem nós éramos, de nossa pretensão; não podíamos dizer que (éramos) mercadores, que fora acertado, pois não levávamos fato; respondi, que eu era Português, e que ia ao Tibet em busca de um irmão meu, que havia anos lá estava, segundo as novas que me chegaram, entendendo ser o Rei; e revolvendo-nos o fato de vestir que levávamos, quando viram as lobas pretas perguntaram a rezão, ao que respondi que levávamos pera as vestir, se acaso aqueste meu irmão fosse morto, em sinal de dó, por ser aquela a côr que se usava nas nossas terras; então ficaram mais persuadidos que teria lá algum irmão, como dizia; depois de cinco dias nos deixaram passar, por particular mercê de Deus; e nós, com toda a brevidade possível, fomos caminhando obra de quinze dias por serras menos fragosas que as passadas; e passadas elas, chegámos a outras cheias de neve, nas quais a sombra e a frescura de fontes nos era já menos necessária, por haver já grande frio. Passámos o rio Ganga muitas vezes, não por pontes de corda bem dificultosas, como no caminho que tinhamos deixado atrás, mas por cima da neve que o cobria por grandes tratos, indo ele fazendo por baixo seu curso com grande estrondo. Não pude entender como era possível cair tanta neve, que abobadasse tão caudaloso rio, sem serem bastantes suas águas a levá-la, e derretê-la; parece-me que das serras ao pé das quais ele corre, não podendo sustentar a máquina e grande pêso da neve, cai sobre este rio como a montes, ficando com o pêso e queda mais composta e densa, cobrindo assi por cima em muitas partes como um tiro de espingarda em outras mais e em outras menos, deixando em lugares umas concavidades e aberturas medonhas que não causam pequeno pavor aos que passam por cima, não sabendo a que hora e ponto cairão aquelas abóbodas, como caem muitas vezes, servindo a muitos de sepultura. Assi fomos passando alguns dias, até que a cabo de mês e meio chegámos ao Pagode de Badrid, que está nos confins das terras do Siranagar; e este há grande concurso de gente, ainda das partes mui remotas, como de Ceilão e Bisnaga e outras que a ele vêem em romaria. Quando de Goa voltámos, vieram em nossa companhia dous moços cingalás de Ceilão, cumprida já sua romaria a este Pagode; queixaram-se que não acharam esmolas para se sustentar, e que padeciam muita falta; compadeci-me deles e mandei-lhes dar uns bazarrucos, que faziam um larim de Goa; porém, sabendo eles que não éramos gentios, não a aceitaram esmola, dizendo que só de Brâmenes, ou de Baneanes a recebiam. […] 

(via “História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI – Literatura de Viagens – II” – Fundação Calouste Gulbenkian, Boletim nº 23, Dezembro de 2002 – a partir de “Viagens na Ásia Central em Demanda do Cataio: Bento de Goes e António de Andrade”, Introd. e notas de Neves Águas, Lisboa, Publ. Europa-América, 1988)

Um livro recente, alegando desvendar os segredos da descoberta da Austrália, defende que terão sido portugueses os primeiros europeus a descobrir a Austrália. Pode saber mais num artigo do jornal Washington Post da semana passada.

Monge franciscano (século XV). Em 1472, recebeu consentimento para se deslocar como missionário para a Guiné e ilhas atlânticas. Já havia estado em Tenerife, onde conseguiu converter milhares de indígenas. Inseriu-se, desta forma, no espírito religioso da expansão quatrocentista.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Mas tornando às serras, são elas pela maior parte cheias de muito arvoredo, do meio para baixo, como grandes pinheiros de várias castas, e de estranha grandeza, uns como os nossos e outros mais frescos, que não dão fruto, mas de muito melhor madeira, tão altos, sem tortura alguma, que passem por duas e três altiras da Torre do Bom Jesu de Goa; não é encarecimento, senão realidade muito certa; em muitas partes achámos grande número de pessegueiros e pereiras carregadas de muita fruta verde, e muitas árvores de canela, ciprestes, limoeiros, roseirais grandíssimos, com rosas sem número, muitas amoras de sylva, umas pretas como as nossas, outras vermelhas como medronhos, mas todas muito boas; uma serra vi, toda de árvores de S. Tomé, sem folha, mas tão carregadas de flores, umas brancas e outras como as da Índia, e elas tocando-se umas às outras como os ramos, de sorte que parecia toda a serra um monte de flores, ou uma só flor, e foi a mais fermosa vista neste género que em toda a minha vida tive; há grande número de outras árvores como castanheiros, sem fruta, mas quebram com ramalhetes de fermosíssimas flores, de maneira que cada cacho é um fermoso e grande ramalhete da figura de um acipreste, tão talhado que não deixa a natureza lugar a se lhe acrescentar cousa alguma pera sua perfeição. As flores, como as nossas, são muitos lírios, rosas, e açucenas, e outras em grande número, tão perigrinas como fermosas, e em muitas partes vi grandes tratos de terra, cuja erva era só manjerona, tão fina como a nossa, mas a folha mais meúda; porém o que faz as serras mais aprazíveis, e menos dificultosas aos caminhantes, são as muitas fontes que delas correm, umas despenhando-se dos mais altos picos, outras brotando de vivas pedras ao longo do caminho, de água tão cristalina e fresca, que há mais que desejar. Assi chegámos à cidade de Siranagar, aonde reside o Rajá, e não tem outra, porém um grandíssimo número de aldeias como vilas pequenas. E a gente desta terra nos costumes mui diferentes da gente industana, não degolam os carneiros e cabras, que comem, mas afogam-nas, e dizem que ficando o sangue espalhado, faz a carne mais gostosa; e assi, sem esfolar as rezes, com a pele chamuscada e a carne mal assada, correndo-lhe o sangue, a comem; de ordinário andam descalços e com os pés gretados e cheios de golpes, e tão calejados que correm sem moléstia alguma por cima de pedras mui agudas e espinheiros sem se ferirem. 

(via “História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI – Literatura de Viagens – II” – Fundação Calouste Gulbenkian, Boletim nº 23, Dezembro de 2002 – a partir de “Viagens na Ásia Central em Demanda do Cataio: Bento de Goes e António de Andrade”, Introd. e notas de Neves Águas, Lisboa, Publ. Europa-América, 1988)

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