Julho 2007


Navegador (? – Angra, Açores, 1499). Irmão mais velho de Vasco da Gama, apesar de doente acompanhou-o no descobrimento do caminho marítimo para a Índia, ao comando da nau São Rafael, revelando-se o mais dedicado e fiel conselheiro do irmão durante a famosa viagem. Dotado de um carácter sereno e prudente, Paulo da Gama teve grande influência para o êxito da expedição, não só por defender os homens perante os ímpetos do irmão, mas também pela coerência com que comandou a sua nau. Em Calecute, depois de Vasco desembarcar, Paulo assumiu o comando da armada e, perante o perigo, recusou pôr-se a salvo sem que o irmão voltasse. Durante a viagem de regresso, não estando a sua nau em condições de navegar, teve de ser queimada, passando Paulo da Gama para a capitania, onde o seu já débil estado de saúde piorou. Vendo a gravidade da situação, Vasco rumou rapidamente para a ilha Terceira, mas Paulo faleceria pouco depois de aportar a terra.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

É inaugurada hoje, pelas 19 horas, no Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa – Rua das Janelas Verdes), uma exposição que aborda, pela primeira vez, a história dos tapetes orientais em Portugal, estruturada em 4 grandes núcleos: Península Ibérica, Turquia, Pérsia e Índia .

Os tapetes orientais foram introduzidos na Península Ibérica depois da conquista islâmica no século VIII, com Lisboa a ter uma produção própria, por artífices muçulmanos, até ao final do século XV – altura em que os tapetes turcos (de desenho geométrico, importados através de Veneza) alcançaram uma crescente popularidade em toda a Europa.

Com a descoberta da rota marítima para a Índia, em 1498, os tapetes persas e indianos, de desenho floral, começaram a chegar cada vez em maior número ao mercado português, com os tapetes persas de seda a tornarem-se o têxtil oriental de maior prestígio no comércio internacional.

Em paralelo, os pintores portugueses acompanharam a presença dos tapetes orientais, concedendo-lhe um lugar de destaque nas suas composições.

Ao deradeiro de Julho, que tão mal o fiz comnoscuo em quinta feira não tomey o sol por estar doente em cama, mas alguns homens tomarão 32 graos. A bafagem de ontem que ontem avia oeste, com que a nao ya governando mal, durou athe o quarto de prima que acalmou de todo, e veo ventando do vento norte, e veo refrescando, esperando nos ha 8 dias que este vento nos tras cançado, que con esta agoa desariba, nos vieçe o vento ao ponente, mas parece que são pecados nosos e não meresemos a Deos, mas con este vento norte vamos delo quanto podemos ao londo dello. A proa a lesnordeste, ora mais ora menos, eu dey a nao iso que demenuyo a lesnordeste, faço estar de terra 70 legoas da mais chegada. O mar esta chão, os paçaros acustumados.

(via “Uma Viagem Redonda da Carreira da Índia (1597-1598)”, de Joaquim Rebelo Vaz Monteiro, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985)

Neste tempo que Vasco da Gama chegou a ela, posto que geralmente toda esta terra Malabar fosse habitada de gentios, nos portos do ma viviam alguns mouros, mais por razão da mercadoria e trato que por ter algum estado na terra, porque todos os reis e príncipes dela eram do género gentio e da linhagem dos Bramanes, gente a mais douta e religiosa em seu modo de crença de todas aquelas partes.

E o mais poderoso príncipe daquele Malabar era el-rei de Calecut, o qual por excelência se chamava Çamorim que acerca deles é como entre nós o título imperador. Cuja metrópole de seu estado, da qual o reino tomou o nome, é a cidade Calecut, situada em uma costa brava não com grandes e altos edifícios, somente tinha algumas casas nobres de mercadores, mauros da terra, e doutros do Cairo e Meca ali residentes, por causa do trato da especiaria, onde recolhiam sua fazenda com temor do fogo, toda a mais povoação era de madeira coberta de um género de folha de palma a que eles chamam ola.

E como nesta cidade havia grande concurso de várias nações, e o gentio dela mui supersticioso em se tocar com gente fora de seu sangue, principalmente os que se chamavam Bramanes e Naires, destes dois géneros de gente sendo a mais nobre da terra viviam nela mui poucos, toda a outra povoação era de mouros e gentio mecânico. Pela qual causa também el-rei estava fora da cidade em uns paços, que seriam dela quase meia légua, entre palmares, e a gente nobre aposentada por derredor, ao modo que cá temos as quintans.

E porque (segundo dissemos) adiante particularmente escrevemos as cousas deste reino Calecut, não procedemos aqui mais na relação delas.

(via http://www.nead.unama.br/bibliotecavirtual/livros/pdf/DecadasdaAsia.pdf)

Vice-rei da Índia (19 de Março de 1674 – Lisboa, 5 de Maio de 1752), foi também governador e capitão-general da ilha da Madeira. Filho de Luís Saldanha da Gama, capitão-general de Mazagão (Marrocos), iniciou a carreira das armas ainda muito jovem, servindo com o pai em Mazagão. Foi, depois, coronel de Infantaria e camarista do infante D. António. Em 1725, foi nomeado vice-rei da Índia, cargo em que se manteve até 1732, regressando então ao reino. Durante a sua brilhante governação as forças portuguesas obtiveram vários êxitos militares, conseguindo reconquistar Mombaça. Chefiou ainda a embaixada portuguesa que se deslocou a Pequim, encarregada de saudar o imperador. É de sua autoria o Elogio Funebre do Marquez das Minas, D. Antonio Luiz de Menezes, publicado no tomo VI das Provas da Historia Genealogica da Casa Real Portugueza.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Aos 30 do mes em quarta feira não tomey o sol por estar doente, mas alguns homens tomarão 32 graos e 1/3. O vento foi calma oeste quanto a nao governava mal, e de noite ouve grandes escarçeos d’agoa com que a nao trabalhava mal muito e não queria dar pello leme, e asym rompeo a vella da gavea e a sevadeira. Oje todo o dia esta o vento calmão quanto a nao governa mal, vou governando ao nordeste a ginar a qarta de leste iso que demenuyo, estou da mais chegada terra 75 legoas. Os paçaros os costumados, alguma corva de bico branco. Ontem foi setemo da minha doença e tem se tão pouca conta que o dia que hera de setemo que sendo quatro dias que não tinha febre, estou oje sangrado duas veses. Lembre çe Nosso Senhor de nos e a Virgem do Rosario Madre de Deos.

(via “Uma Viagem Redonda da Carreira da Índia (1597-1598)”, de Joaquim Rebelo Vaz Monteiro, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985)

E posto que toda esta província Industão seja povoada de dois géneros de povo em crença, um idolatra e outro mahometa, é mui vária em ritos e costumes, e todos entre si a têm repartida em muitos reinos e estados, assim como em os reinos do Moltan, Deli, Cospetir, Bengala em parte, Orixa, Mando, Chitor, Guzarate a que comummente chamamos Cambaia.

É no reino Dacam, dividido em muitos senhorios, que tem estado de reis com o de Pale que jaz entre um e outro.

E no grande reino Bisnagá, que tem debaixo de si alguns régulos com toda a província do Malabar, repartida entre muitos reis e príncipes de mui pequenos estados, em comparação dos outros maiores que calamos, parte dos quais foram isentos e outros súbditos destes nomeados.

E segundo estes povos entre si são belicosos e de pouca fé, já toda esta grande região fora súbdita ao mais poderoso, se a natureza não atalhara à cobiça dos homens com grandes e notáveis rios, montes, lagos, matas e desertos, habitação de muitas e diversas alimárias que impedem passar de um reino a outro. Principalmente alguns notáveis rios, parte dos quais não entrando na madre do Indo e Gange, mas regando as terras que estes dois abraçam com muitas voltas, vêm sair ao grande oceano, e assim muitos esteiros de água salgada tão penetrantes a terra, que retalham a marítima de maneira que se navegam por dentro.

E a mais notável divisão que a natureza pôs nesta terra, é uma corda de montes a que os naturais por nome comum, por o não terem próprio, chamam Gate, que quer dizer serra, os quais montes tendo seu nascimento na parte do norte, vêm correado contra o sul assim como a costa do mar vai a vista dele, deixando entre as suas praias e o sertão da terra uma faixa dela chã e alagadiça, retalhada de água em modo de lezírias em algumas partes, até irem fenecer no cabo Comori, o qual curso de montes se estende perto de duzentas léguas. Pero, começando no rio chamado Carnaté, vizinho ao cabo e monte de Li, mui notável aos navegantes daquela costa em altura de doze graus e meio da parte do norte, entre uma faixa de terra que jaz entre este Gate e o mar, de largura de dez ate seis léguas, segundo as enseadas e cotovelos se encolhem ou bojam, a qual faixa de terra se chama Malabar que terá de comprimento obra de oitenta léguas, onde está situada a cidade Calecut.

(via http://www.nead.unama.br/bibliotecavirtual/livros/pdf/DecadasdaAsia.pdf)

Aos 29 do mes em terça feira não tomey o sol por estar doente e tãobem por não apareser, e tãobem na nao não ha quem no tome. O vento lessueste d’ontem a tarde nos deixou hir pello nornordeste, durou athe o quarto da prima e se fez nordeste e nornordeste, viramos a nao na volta de lesueste com os papafigos por a vella da gavea estar rota; o vento se foi fazendo norte e toma alguma cousa do noroeste, vamos asy com elle de lesnordeste con vella de gavea por nos ter pera balrravento. Eu dey a nao 12 legoas que podia andar, d’ontem ao meo dia athe o quarto da prima que viramos na outra volta, e sinco legoas a lessudueste (?) pello que podia andar athe o meo dia; faço estar a nao a redor de 33 legoas digo graos, 65 a 70 legoas da mais chegada terra que he a de Ribeira de Natal que demora ao nordeste. Tras nos mortos e cansados tão ma tempo como nos segue ha tantos dias sem fazermos caminho nenhum, sobre tanta doença, tanta mizeria quam padese esta nao. Lembre çe Nosso Senhor de nos e a Virgem do Remedio Madre de Deos.

(via “Uma Viagem Redonda da Carreira da Índia (1597-1598)”, de Joaquim Rebelo Vaz Monteiro, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985)

Aos 28 do mes não tomey o sol por estar doente e não apareser. Esta noite no quarto da prima o vento se fez sudueste e veo refrescando que parecia de vir de boa feição, mas o ben durara nos pouco porque, como foi menhã, se foi ao sueste; pello meo dia se fez lessueste que he agora; enquanto o vento foi largo governava ao nordeste e quarta de leste, como escaseou vamos aonde podemos ao nordeste e quarta do norte e ao nornordeste. Eu dey a não 15 legoas que podia andar desde que derão a vella athe o meo dia, faço estar a nao de terra 70 legoas, o caminho que dey a nao foi nordeste e quarta do norte. O tempo esta de seos toldados, oje he lua chea, já não espero ponente athe agoa não hir de quebra. Os pasaros os acostumados. A nao nesta volta do nornordeste amurados deste bordo deixa a esteira muito direita, não mostra abater nada, o que parece agoa que vay ao susudueste, porque nesta outra volta de lesnordeste amurada de bombordo deixa a nao a esteira outra ves e governa a nao muito mal. Lembre çe Nosso Senhor de nos e a Virgem do Rosario Madre de Deos.

(via “Uma Viagem Redonda da Carreira da Índia (1597-1598)”, de Joaquim Rebelo Vaz Monteiro, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985)

Governador ultramarino (Aveiro, 1673 – Lisboa, 11 de Novembro de 1731). Frequentou a Universidade de Coimbra, mas abandonou os estudos para servir como soldado na nau Nossa Senhora da Conceição, que partiu de Lisboa em Março de 1692, transportando D. Pedro de Noronha, então nomeado vice-rei da Índia. Chegada a Goa apenas no ano seguinte, depois de uma tormentosa viagem, distinguiu-se em vários combates na costa ocidental da Índia, particularmente na vitoriosa batalha naval contra os árabes de Omana, em 1695. Nos anos seguintes, combateu no golfo Pérsico, voltando a destacar-se na Batalha de Ras-al-Hadd, em 1697, e pouco depois na defesa de Kung, no Congo. Durante a Guerra da Sucessão, comandou uma das oito fragatas lusas que contribuíram para a derrota de uma esquadra francesa na baía de Algeciras, em 1705. Notável foi também a sua acção como governador de Paraíba (1708-1717) e como capitão-general do Maranhão-Pará (1721-1728). No delicado problema da liberdade dos índios foi um ardoroso apoiante dos jesuítas e mesmo depois de regressar ao continente continuou a defender a acção dos missionários nesta questão.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

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