A revista Orfeu, principal meio de expressão da geração modernista portuguesa, lançada em 1915, foi gestada no Rio de Janeiro pelos diplomatas Luís de Montalvor, português, e Ronald de Carvalho, brasileiro.

Mas, para além de inúmeras e mútuas influências, o elo mais forte e emblemático entre Brasil e Portugal, no campo literário, talvez seja António Vieira.

Neste ponto, é com emoção que vos convido a uma navegação de saudade, marcada pelos faróis antigos da «última flor do Lácio, inculta e bela», no bem-dizer do poeta da língua portuguesa.

Mais do que factor de unidade, é o português a linha maior da união das nossas culturas. E nesse mesmo oceano do idioma, a navegar a nau capitânia, vai o «imperador» António Vieira.

Meus amigos, esse António me é muito familiar desde a infância, na cidade do Salvador, por onde, pelas suas ruas, as sandálias do missionário o levaram em missão evangelizadora. Pregador, diplomata, homem político de fina e pura água, Vieira foi um dos personagens mais cativantes da cena portuguesa do século XVII. Foi ele o excelso protagonista dos acontecimentos políticos nos seus instantes cruciais de decisão, fosse na Baía colonial, nas matas do Maranhão, como aqui foi citado, ou da Amazónia, fosse na mercantilista Amsterdão ou nos gabinetes de opulência cultural e política do Vaticano ou de Cristina da Suécia.

Esse grande e incomensurável Vieira, senhor de obra literária extraordinária, nos Sermões, anda por desvendar nos estudos sobre o messianismo da História do Futuro, como ninguém o fez.

“As Comemorações dos 500 Anos do Achamento do Brasil na Assembleia da República”, intervenção do Presidente do Congresso Nacional da República Federativa do Brasil, António Carlos Magalhães, na sessão solene comemorativa dos 500 anos do achamento do Brasil e de boas-vindas ao Presidente do Congresso Nacional da República Federativa do Brasil, 16 de Maio de 2000, edição da Assembleia da República, 2000, pp. 85 a 90