Roteiro Índia-Álvaro Velho


E ao domingo fomos ao nordeste e, quando veio a hora de véspera, vimos estar três ilhas em o mar, e eram pequenas; e as duas são de grandes arvoredos e a outra é calva e pequena mais que as outras; e de uma a outra haverá quatro léguas; e porque era noite, virámos na volta do mar, e de noite passámos por ela.

(via “História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI – Literatura de Viagens – II” – Fundação Calouste Gulbenkian, Boletim nº 23, Dezembro de 2002 – a partir de “Relação da Primeira Viagem de Vasco da Gama (1497-1499)”, introd. e notas de Luís de Albuquerque, Lisboa, CNCDP/ME, 1989)

Daqui [Quelimane] partimos um sábado, que eram vinte e quatro dias do mês de Fevereiro; e fomos aquele dia na volta do mar e a noite seguinte em leste, para nos arredarmos da costa, a qual era mui graciosa da vista.

(via “História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI – Literatura de Viagens – II” – Fundação Calouste Gulbenkian, Boletim nº 23, Dezembro de 2002 – a partir de “Relação da Primeira Viagem de Vasco da Gama (1497-1499)”, introd. e notas de Luís de Albuquerque, Lisboa, CNCDP/ME, 1989)

Esta gente é negra, e são homens de bons corpos; andam nus, somente trazem uns panos de algodão pequenos com que cobrem suas vergonhas, e os senhores desta terra trazem estes panos maiores. E as mulheres moças, que nesta terra parecem bem, trazem os beiços furados por três lugares, e ali lhes trazem uns pedaços de estanho retorcidos; e esta gente folgava muito connosco; e nos traziam aos navios disso que tinham, em almadias que eles têm; e nós isso mesmo íamos à sua aldeia a tomar água. […]

(via “História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI – Literatura de Viagens – II” – Fundação Calouste Gulbenkian, Boletim nº 23, Dezembro de 2002 – a partir de “Relação da Primeira Viagem de Vasco da Gama (1497-1499)”, introd. e notas de Luís de Albuquerque, Lisboa, CNCDP/ME, 1989)

Foi este boi o nosso jantar de domingo. Era muito gordo, e a sua carne saborosa como a que comíamos em Portugal. Neste domingo, 3 de Dezembro, aproximaram-se outros tantos e traziam consigo as mulheres e crianças pequenas. As mulheres estavam em cima de uma elevação, perto do mar, e tocavam e bailavam como no sábado.

(via http://www.osomdolugareomundo.com/marca_detalhes.asp?cod=5)

No sábado, cerca de 200 negros, entre grandes e pequenos, aproximaram-se. Traziam umas 12 reses, bois e vacas, e quatro ou cinco carneiros. Logo que os vimos, fomos para terra. Eles então começaram a tocar quatro ou cinco flautas, e uns tocavam alto, outros, baixo, num concerto muito bom para negros, de quem não se espera música. Além disso, bailavam como negros. O Capitão-mor mandou que se tocassem as trombetas, e todos nós pusemo-nos a dançar nos batéis, mesmo o Capitão. Acabada a festa, fomos à terra, onde desceramos da outra vez, e ali trocámos um boi negro por três manilhas.

(via http://www.osomdolugareomundo.com/marca_detalhes.asp?cod=5)

Em vinte e cinco dias do dito mês de Novembro, um Sábado à tarde, dia de Santa Catarina, entrámos em a Angra de São Brás, onde estivémos treze dias porque nesta angra desfizemos a nau que levava os mantimentos e os recolhemos aos navios.

(via http://www.geocities.com/ail_br/alvarovelhodobarreiro.html)

E à quarta-feira, ao meio-dia, passámos pelo dito Cabo ao longo da costa, com vento à popa. E junto com este Cabo de Boa-Esperança, ao sul, jaz uma angra muito grande que entra pela terra bem seis léguas e em boca haverá bem outras tantas.

E ao domingo pela manhã, que foram 19 dias do mês de Novembro, fomos outra vez com o Cabo e não o pudemos dobrar porque o vento era su-sueste, e o dito Cabo jaz nordeste-sudueste. E em este dia mesmo virámos em a volta do mar, e à noite da segunda-feira viemos em a volta da terra.

E ao sábado à tarde ouvemos vista do dito Cabo de Boa-Esperança. E em este dia mesmo virámos em a volta do mar, e de noite virámos em a volta da terra.

E tanto que tivemos nossos navios aparelhados e limpos e lenha tomada, nos partimos desta terra uma quinta-feira pela manhã, que era a 16 dias de Novembro, não sabendo nós quanto éramos do Cabo de Boa-Esperança, salvo Pêro d’Alenquer dizia que ao mais que podíamos ser seriam 30 léguas a ré do Cabo. E o porque se ele não afirmava era porque ele partira um dia pela manhã do Cabo e que de noite passara por ali com vento à popa, e isso mesmo à ida foram de largo; e por estes respeitos não eram em conhecimento donde éramos, pelo qual fomos em a volta do mar com sul-su-sueste.

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