Artigo xlii, que fala dos bramines do Malavar.
Bramines sam sacerdotes, e trazam hũa linha depemdurada do ombro esquerdo por debaixo do braço direito, e de vimta sete fios feitos em tres. A milhor geração destes bramines sam chatas e depois patamares, e despos estes lambudario, e os mais somenos sam lambures. Trazem estes bramines o nacimento amtiquisimo, sam de mais limpo samge que os naires. Tem carrego d’estar rezamdo, sam emtemdidos nas cousas de sua cremça. Os mais omrrados destes estam com os reis do Malavar. Sam homens que não comem nenhũa cousa que fose viva e tivese samge, e por esta causa pronunciarão os amtiguos deles/que nam fose nenhum no Malavar tão poderoso que matase vaca nem a comese, so[b] pena de morte e de grande pecado. A rezão será por comerem o leite os bramines, pois emgeitaram a carne, domde pereçe pois tamto estimão as vacas, por que em muitas partes os gemtios as adoram como cousa samta. Estes bramines tem poder de escomungar e de a[b]solver. Nenhum nam traz armas nem vai à gerra nem se mata per nenhum caso, aimda que o mereça francamente. Amdam por omde querem, posto que seja em gerra.
(via “História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI – Literatura de Viagens – II” – Fundação Calouste Gulbenkian, Boletim nº 23, Dezembro de 2002 – a partir de “O Manuscrito de Lisboa da Suma Oriental” de Tomé Pires; Rui Manuel Loureiro, Lisboa, Instituto Português do Oriente, 1996)