Fevereiro 2009


Foi primeiro conde Gomes Freire de Andrade (1685-1763), que foi governador do Rio de Janeiro quase 30 anos. Foi moço-fidalgo e fidalgo-escudeiro dos conselhos de D. João V e D. José. Em 1733 foi enviado para o Brasil como governador e capitão-general do Rio de Janeiro, onde mandou construir o palácio do governo, o Aqueduto da Carioca e a Fonte da Praça do Carmo. Também administrou Minas Gerais (1735) e as capitanias de Goiás, Cuiabá e Mato Grosso. Proporcionou a criação da primeira tipografia do Rio de Janeiro, o que não lhe valeu grandes encómios do governo de Lisboa, que não pretendia brasileiros ilustrados. Chegou mesmo uma ordem de encerramento da oficina, por se temer actos subversivos. Foi também diplomata de mérito, sendo notória a sua acção na definição dos limites de fronteira do Brasil com as colónias espanholas. Destacou-se igualmente como militar, ao comandar a campanha dos exércitos auxiliares e espanhóis que dominou os índios no Rio Grande do Sul, Uruguai, Buenos Aires e Sacramento. Recebeu o título por decreto de D. José, datado de 8 de Outubro e carta de 20 de Novembro de 1758. O seu irmão, José António Freire de Andrade (1708-1784) foi o segundo conde. Também esteve no Brasil, onde foi governador e capitão-general interino do Rio de Janeiro e Minas Gerais. No continente governou as Armas da Beira e, interinamente, as do Minho (entre 1766 e 1768). Foi moço-fidalgo e comendador, em duas vidas, de Nossa Senhora de Vila Velha de Ródão, na Ordem de Cristo. O título foi-lhe renovado por decreto de 2 de Maio, logo seguido de carta a 9 do mesmo mês de 1763.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Bandeirante paulista (? – São Paulo, 1722). Como capitão-mor percorreu 24 vezes os sertões do Paraná e Paraguai, à procura de índios para trabalhar como escravos. No período de 1673 a 1680 atingiu terras cuiabanas, sendo considerado o primeiro homem branco a pisá-las. Alcançou a confluência do rio Cuiabá com o Coxipó, baptizando-o de São Gonçalo, e prosseguiu viagem na tentativa de descobrir as Minas dos Martírios. O seu filho, António Pires de Campos, em 1718, chegou ao mesmo local, que rebaptizou de São Gonçalo Velho, e combatendo com os índios coxiponés, aprisionou dezenas para vendê-los em São Paulo. Foi também um dos pioneiros no desbravamento das regiões de Mato Grosso e Goiás. Em 1675, a sua bandeira atingiu o limite norte do Mato Grosso. Em 1716, a região de Cuiabá foi atingida por António Pires de Campos, que já estivera no Mato Grosso, aos 14 anos, integrado na bandeira do seu pai.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Militar (Olinda, 1600 – Rio de Janeiro, 1644). Como mestre de campo partiu, em 1639, de Touros rumo à Baía, conseguindo vitórias consecutivas sobre os holandeses. Bateu-se também contra os holandeses que ocuparam a sua cidade natal. Governador do Rio de Janeiro, de 1643 a 1644, fortificou o litoral e canalizou o riacho Carioca. Publicou o idílio poético Itaé e o volume Poesias Líricas.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Desanuviamento e reorientação

Os Portugueses de Macau foram obrigados a aguardar mais algum tempo até que a situação voltasse à normalidade. A crescente influência dos jesuítas junto do Imperador pesou decisivamente neste sentido. Assim, ao longo da década de 1670, Macau a situação desanuviou-se gradualmente, à medida que as regiões meridionais caíam sob a autoridade do poder central. A revolta de três principados do Sul, despoletada em 1673, só foi dominada 3 anos mais tarde. Aproveitando o facto de Kangxi assumir cada vez mais o papel de grande reunificador da China, mediante consecutivas vitórias militares, os moradores de Macau decidiram enviar uma comitiva de cortesia e saudação. Chefiada por Bento Pereira de Faria, chegou a Pequim em Setembro de 1678. O aspecto mais curioso desta delegação foi o facto de incluir o transporte de um leão, capturado em Moçambique, que foi oferecido ao Imperador e que causou grande impressão na capital chinesa.

Graças aos esforços dos jesuítas que rodeavam Kangxi, a comitiva de Bento Pereira de Faria conseguiu obter alguns resultados no que respeitava ao levantamento dos éditos de 1661-62. A curto prazo, as ligações com Cantão foram restabelecidas e a navegação portuguesa retomou o seu ritmo normal. Contudo, enquanto os últimos focos de resistência não desaparecessem, havia sempre o risco de as embarcações portuguesas correrem riscos acrescidos. A conquista da Formosa pelos generais Qing, em 1683, veio resolver definitivamente a questão. Macau teve ainda que suportar durante algum tempo as exacções abusivas por parte dos mandarins do Guangdong/Guangxi, mas a situação regressou rapidamente à normalidade.

No entanto, Macau perdeu a sua antiga função de acesso exclusivo a Cantão, cuja feira estava agora aberta aos navios de outras potências europeias. A concorrência, tanto por parte dos europeus como pelas comunidades chinesas ultramarinas, reduzia a margem de manobra dos mercadores de Macau. Uma vez mais, os Portugueses procederam à reorganização do seu comércio, intensificando os seus contactos com os reinos da Indochina e várias regiões da Insulíndia. Já alguns anos antes o vice-rei de Goa havia tentado retomar e explorar, por conta da Fazenda Real, várias linhas de comércio (ou viagens) de Macau, nomeadamente Manila, Solor, Timor e Larantuca, e iniciativas semelhantes viriam a ocorrer na década de 1680. Embora sem o fulgor do seu período áureo, Macau retomou o seu papel como entreposto comercial nos mares do Extremo Oriente e vanguarda da presença portuguesa europeia na região, deixando definitivamente para trás um período de crise que se conta certamente entre os mais difíceis da sua história secular.

Paulo Jorge de Sousa Pinto. “Os Anos da Tormenta – Macau e a Crise de Meados do Século XVII”. Encontros de Divulgação e Debate em Estudos Sociais, Nº 5, Jan.- Jun. 2000

Bibliografia

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Pimentel, Francisco. Breve Relação da Jornada que fez à Corte de Pekim o Senhor Manuel de Saldanha… Ed. C. R. Boxer e J. M. Braga. Macau, Imprensa Nacional, 1942.
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Saldanha, António Vasconcelos de e Jorge dos Santos Alves (dir.). Estudos de História do Relacionamento Luso-Chinês, séculos XVI-XIX. Macau, Instituto Português do Oriente, 1996.
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Wills Jr., John E. Embassies & Ilusions: Dutch and Portuguese Envoys to K’ang-hsi, 1666-1687. Cambridge (Massachussets), Harvard University Press, 1984.

Escrito com a destreza narrativa de um romancista de créditos firmados (vencedor do Booker Prize por duas vezes), este livro traz em si, também, a urgência da reportagem e a capacidade de observação do melhor jornalismo. Revela-nos aquilo a que muita gente ainda não terá dado a atenção necessária: que há uma nova geração de adolescentes ocidentais a crescer, nesta primeira década do século XXI, sob a influência da cultura popular japonesa. Peter Carey conduz o filho e é conduzido (levando-nos a nós também nessa viagem) pelos labirintos de uma cultura cheia de códigos mais ou menos impenetráveis para um estrangeiro. Uma cultura bem mais transparente para um adolescente familiarizado com os universos da manga e do anime do que para um adulto à procura de uma chave que se revela quase sempre «lost in translation».

Tema(s): Literatura de Viagens
Tradução: Carlos Vaz Marques

Informações adicionais via Twitter: http://twitter.com/JAPAOcarey

Militar (Pernambuco, ? – Espírito Santo, 1666?). Assinalou-se na expulsão dos holandeses e na luta contra os corsários que infestavam as costas do Brasil. Em 1660, foi nomeado governador do Rio de Janeiro, como consequência da insurreição popular contra o governador interino Tomé Carreira de Alvarenga, que foi deposto. Pela Resolução Régia de 9 de Outubro de 1663 foi declarado dono da Ilha de Santa Catarina, a título de remuneração dos serviços prestados bem como do seu pai, o qual foi mestre de campo da Retirada do Cabo de São Roque. Comandou uma expedição ao rio Doce em busca de esmeraldas, vindo a morrer na selva.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Os anos críticos

Na década de 1650, a situação de Macau agravou-se. O fim das tréguas com os Holandeses significava o recomeço das hostilidades e do isolamento de Macau. Em 1653, o surgimento de um navio holandês que rumava a Cantão fez soar o alarme, tendo os Portugueses enviado imediatamente uma delegação junto das autoridades chinesas para garantir que a recepção não lhes fosse favorável. O relacionamento com Manila constituía igual motivo de preocupação, pois os Castelhanos nunca permitiram a normalização das relações entre as duas cidades, apesar da autorização concedida pelo vice-rei D. Filipe de Mascarenhas para o restabelecimento das ligações comerciais.

O principal factor de instabilidade para Macau era a evolução política da China. A organização mercantil e corsária liderada pelos Zheng, que controlava as regiões costeiras do Fujian e Guangdong e as ligações aos arquipélago nipónico, o Golfo do Tonquim e o Sião, até à Península Malaia e às Filipinas, saíra reforçada após a captura de Zheng Zhilong pelos Qing. O seu filho Zheng Chenggong, a quem os Portugueses chamavam Coxinga, assumiu a liderança e, apesar de todas as tentativas de aliciamento por parte das autoridades chinesas, demonstrou de forma cabal as suas pretensões de total autonomia do poder central, reforçando o poder da organização e intervindo inclusivamente no jogo político de regiões interiores da China, mediante a aliança com diversos generais e senhores da guerra locais. Em meados da década tornara-se evidente que o conflito era inevitável. Logo em 1652, o Imperador emitiu um édito de evacuação de várias cidades costeiras, numa manobra destinada a privar Zheng Chenggong das suas bases de apoio, mas esta medida não chegou a afectar Macau.

No horizonte vislumbrava-se uma aliança tácita entre os Qing e a VOC holandesa, grandemente prejudicada pelo poderio marítimo dos Zheng. Em 1659, Zheng Chenggong cometeu o seu maior erro, que lhe viria a ser fatal: a tentativa, que se saldou num fracasso, de conquistar Nanquim. Os Qing retomaram a ofensiva e recomeçaram o processo, desta vez sistemático, de isolamento do adversário, mediante a evacuação de zonas costeiras e ilhas do Fujian. Em 1661, Coxinga atacou onde menos se esperava, desembarcando na Formosa de onde expulsou os Holandeses. Este ataque terá possivelmente salvo Macau da conquista holandesa, uma vez que inviabilizou o plano de ataque à cidade com a forte armada que havia saído no ano anterior de Batávia com o objectivo de expulsar os Portugueses da região de uma vez por todas.

Em Agosto de 1661, o Imperador emitiu uma ordem geral de evacuação de toda a população costeira para o interior, reforçada no ano seguinte com a proibição total de navegação. Zheng Chenggong ficava assim isolado e entrincheirado na Formosa, e Macau corria o risco de desaparecer pura e simplesmente do mapa. Todos os chineses que se aqui se encontravam foram obrigados a retirar-se para Cantão e a cidade foi literalmente encerrada e bloqueada durante os anos de 1662 e 1663. Só no ano seguinte foi possível, mediante as habituais manobras de diplomacia e suborno junto das autoridades provinciais de Cantão, prorrogar a evacuação forçada dos moradores e aliviar, ainda que ligeiramente, o bloqueio, o que permitiu inclusivamente a chegada de um novo capitão-geral vindo de Goa.

A morte de Zheng Chenggong e o enfraquecimento da organização que chefiava não acarretou o levantamento dos éditos de 1661 e 1662. Sobre Macau continuaram a pairar os espectros da fome, da evacuação e de todo o tipo de extorsões e arbitrariedades por parte dos mandarins de Cantão. Em 1666, a tensão atingiu o seu ponto máximo, quando a Porta do Cerco foi encerrada pelos chineses, cortando os abastecimentos aos moradores. Chegou a estar fechada durante mais de 40 dias consecutivos, o que causou carências de toda a espécie na cidade. Em Abril do ano seguinte, o capitão-geral Simão Gomes da Silva ordenou a mobilização geral, preparando-se para uma alegada ofensiva chinesa, que nunca veio a ocorrer. Pouco depois, o apertado bloqueio a Macau distendeu-se e a cidade pôde, pelo menos provisoriamente, respirar de alívio.

Os Portugueses compreenderam que o destino de Macau jogava-se em Pequim, junto da corte imperial, e não em Cantão, onde a instabilidade político-administrativa não permitia a segurança desejada. Foi então preparada em Goa uma embaixada à capital chinesa, com a missão de normalizar as relações e levantar os embargos que recaíam sobre Macau. Apesar de todas as dificuldades, a comitiva chefiada por Manuel de Saldanha atingiu finalmente Pequim em finais de Junho de 1670. Apesar da cortesia com que foi recebida, os seus efeitos práticos foram quase nulos. Era totalmente inadequado, de acordo com as regras do protocolo chinês, que uma embaixada estrangeira se dirigisse ao Imperador com solicitações ou pedidos de ordem prática. Os jesuítas credenciados junto do jovem imperador Kangxi compreendiam perfeitamente esta situação, que foi motivo de não poucos atritos com os representantes de Macau presentes na comitiva.

Paulo Jorge de Sousa Pinto. “Os Anos da Tormenta – Macau e a Crise de Meados do Século XVII”. Encontros de Divulgação e Debate em Estudos Sociais, Nº 5, Jan.- Jun. 2000

Militar e historiador (? – Lisboa, 1748). Após ter participado na Guerra da Catalunha, tornou-se governador do Maranhão. Chegou a governador e capitão-general de Mazagão (Marrocos). Foi autor de Anais Históricos do Estado do Maranhão (1749), obra que contém valiosas informações, pois abrange a história daquele estado desde o descobrimento até 1718.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Uma cidade isolada

A conquista de Malaca pelos Holandeses, a 14 de Janeiro de 1641, consumou o processo de isolamento de Macau das estruturas portuguesas do Estado da Índia. Desde há algum tempo que as comunicações entre Goa e o Extremo Oriente deparavam com dificuldades crescentes, mas Malaca, embora entrincheirada num importante aparato de fortificação, permitia aos Portugueses manter um ponto de apoio vital à navegação. A queda da cidade, que coroou o avanço imparável dos Holandeses na Insulíndia, agravava os problemas de Macau, numa altura em que os efeitos do encerramento do Japão eram evidentes e a turbulência política na China atingia uma fase decisiva, que viria a culminar com a queda da dinastia Ming, em 1644.

As estruturas asiáticas portuguesas debatiam-se com uma profunda crise, motivada com uma vasto leque de causas, a menor das quais não era certamente a concorrência agressiva de Holandeses e Ingleses nos mares do Índico. A aclamação do Duque de Bragança como D. João IV, que antevia a paz com as potências do Norte da Europa, desencadeou porém um processo penoso, longo e doloroso, ao longo do qual o Estado da Índia acabaria por ser sacrificado aos interesses atlânticos. De facto, a paz definitiva com os Holandeses só chegaria na década de 1660, numa época em que o império asiático português estava já reduzido a uma sombra do que havia sido anteriormente.

Em Macau, o processo da «Restauração» foi desencadeado apenas em Maio de 1642, com a aclamação entusiástica do novo monarca. Este facto anunciava algum desafogo no relacionamento futuro com Batávia, mas assinalava igualmente a degradação súbita das relações com Manila. Os contactos foram cortados e, embora nunca viesse a ocorrer a transposição das Guerras da Restauração para o Oriente, temeu-se durante muito tempo que Macau fosse perdida para Castela, quer por via da conquista, quer pela do aliciamento aos macaenses, pois estes viram-se privados de qualquer socorro ou apoio de Portugal durante períodos de tempo consideráveis.

Após o choque inicial motivado pelo encerramento do comércio do Japão, os mercadores de Macau reorganizaram rapidamente as suas rotas comerciais: Cochinchina, o Golfo de Tonquim, Timor e, sobretudo, Macassar constituíam alternativas viáveis ao trato japonês. O golpe final sobre as pretensões de restaurar o comércio nipónico desfizeram-se com o fracasso da embaixada de Gonçalo Sequeira de Sousa que, após vários adiamentos, chegou a Nagasaki em finais de Julho de 1647. Os avisos que os portugueses de Macau haviam dado ao embaixador confirmaram-se: as autoridades japonesas só autorizariam reatar as ligações comerciais se Portugal desse garantias formais de que não tentaria reintroduzir a religião cristã no arquipélago; como D. João IV nunca quis dar esta garantia, os contactos diplomáticos estavam condenados ao fracasso.

A situação política da China era aparentemente clara: os Manchus tomaram Pequim em 1644 e depuseram a dinastia Ming, inaugurando a nova dinastia Qing. Um novo poder na capital imperial não significava contudo a submissão de toda a China. Pelo contrário, o controle sobre as regiões meridionais vinha ainda longe, tanto mais que a resistência aos Manchus aglutinava-se em torno de pretendentes à restauração dos Ming, primeiro na pessoa do regente Lu e depois na do príncipe Yongli. Macau deu o seu apoio a esta causa, tendo enviado um corpo expedicionário, sob o comando de Nicolau Ferreira, que em 1647 desempenhou um papel decisivo na defesa da cidade de Guilin. Por esta altura, germinaram projectos de aliança formal com o príncipe Yongli, com o baptismo de vários elementos da sua família, tendo alguns elementos mais entusiásticos anunciado a instauração de uma monarquia cristã na China. O entendimento com as novas autoridades do país, tanto para salvaguardar o trabalho missionário como a posição de Macau, ganhava contudo cada vez mais adeptos.

A província do Guangdong/Guanxi alinhava claramente pela resistência aos Qing, que conseguiram todavia conquistar Cantão em 1650, desferindo um golpe que condenava ao fracasso as pretensões de restauração dos Ming. O grande foco de oposição passou a ser a organização mercantil e corsária que dominava o Mar da China Meridional, que era então liderada pelos Zheng. Aproveitando a inabilidade e falta de experiência dos Manchus no que tocava às regiões costeiras e aos assuntos marítimos, esta organização passou a agir em clara sintonia com as restantes comunidades chinesas ultramarinas, nomeadamente as do Fujian, conseguindo obter uma clara autonomia face aos desígnios do novo poder em Pequim.

Macau conseguiu, apesar de toda a instabilidade, sair relativamente incólume desta tormenta. O período de tréguas entre Portugal e os Países Baixos (1644-1653) facilitou a tarefa. Um dos problemas criados pelo isolamento da cidade era a turbulência no interior da sociedade macaense, com o agudizar das tensões entre a população e os capitães-gerais. Um destes, Sebastião Lobo da Silveira (1638-44) colocou literalmente a cidade em pé-de-guerra e um seu sucessor, D. Diogo Coutinho Docem (1646), foi assassinado pela população. Os vice-reis de Goa, não podendo lançar mão de recursos financeiros e de um corpo militar para impor a autoridade dos capitães, mostravam-se impotentes para castigar os culpados. Aliás, por esta altura, a capitania de Macau era indesejada pelos fidalgos da Índia, dados os riscos inerentes à viagem e ao desempenho do cargo.

Paulo Jorge de Sousa Pinto. “Os Anos da Tormenta – Macau e a Crise de Meados do Século XVII”. Encontros de Divulgação e Debate em Estudos Sociais, Nº 5, Jan.- Jun. 2000

Político (Cádis, 1602 – Lisboa, 1 de Janeiro de 1681). Oriundo da família Sá, a qual escreveu as primeiras páginas da história no Rio de Janeiro, era filho do português Martim de Sá e da espanhola Maria de Mendoza y Benavides. Seguindo a linhagem de dirigentes militares – tendo como avô Salvador Correia de Sá e como bisavô Mem de Sá –, tornou-se governador do Rio de Janeiro. Chegando ao Brasil em 1615, foi soldado, explorador e, em 1637, passou a governar a capitania do Rio de Janeiro. Destacou-se na consolidação da presença portuguesa no território brasileiro lutando contra os holandeses e os índios. Perdeu muitos dos bens que possuía no Peru e em Espanha, por ter aclamado D. João IV, em 1641. De novo em Portugal, em 1643 foi nomeado general das frotas do Brasil e membro do Conselho Ultramarino. Com o objectivo de resolver a questão dos holandeses em África, o Conselho Ultramarino, em 1647, decidiu organizar uma armada, sob o seu comando, então nomeado governador de Angola. Com a rendição dos holandeses, recuperou Luanda, Benguela e S. Tomé. De regresso a Lisboa, acumulou o cargo de membro do Conselho Ultramarino como de elemento do Conselho de Guerra. De 1658 até 1662, assumiu o cargo de governador e de capitão-general das capitanias do sul do Brasil. De novo em Portugal, manteve-se até à morte como membro do Conselho Ultramarino e comendador da Ordem de Cristo. Em 1678, ofereceu-se para comandar a expedição de Angola à contracosta para moderar a rebelião do régulo de Pate, perto de Mombaça, mas a idade avançada não permitiu que o seu desejo se concretizasse. Casou, no início da década de 30, com D. Catarina de Ugarte e Velasco, viúva rica de Tucumã e filha de uma distinta família crioula.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

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