Dezembro 2007


Vice-rei da Índia (1484 – Goa, 6 de Junho de 1555). Tio de D. João de Mascarenhas, combateu a pirataria moura nas armadas do estreito do Norte de África e foi em socorro de Arzila e Azamor. D. João III fê-lo estribreiro-mor e confiou-lhe importantes embaixadas diplomáticas enviadas a Carlos V, Francisco I de França e à Santa Sé. Deve-se-lhe a vinda para Portugal dos primeiros jesuítas, Simão Rodrigues e Francisco Xavier (1540). De referir que conviveu com Inácio de Loiola, que foi seu confessor. Em 1554, já com idade avançada, tornou-se vice-rei da Índia, cargo onde se evidenciou pela justiça e honestidade que tanto o caracterizavam.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Canto VII

38

“Porque os que usaram sempre um mesmo ofício,
De outro não podem receber consorte,
Nem os filhos terão outro exercício,
Senão o de seus passados, até morte.
Para os Naires é certo grande vício
Destes serem tocados; de tal sorte,
Que quando algum se toca, por ventura,
Com cerimónias mil se alimpa e apura.

39

“Desta sorte o Judaico povo antigo
Não tocava na gente de Samária.
Mais estranhezas ainda das que digo
Nesta terra vereis de usança vária.
Os Naires sós são dados ao perigo
Das armas; sós defendem da contrária
Banda o seu Rei, trazendo sempre usada
Na esquerda a adarga e na direita a espada.

40

“Brâmenes são os seus religiosos,
Nome antigo e de grande proeminência:
Observam os preceitos tão famosos
Dum que primeiro pôs nome à ciência:
Não matam coisa viva, e, temerosos,
Das carnes têm grandíssima abstinência;
Somente no venéreo ajuntamento
Têm mais licença e menos regimento.

41

“Gerais são as mulheres, mas somente
Para os da geração de seus maridos:
Ditosa condição, ditosa gente,
Que não são de ciúmes ofendidos!
Estes e outros costumes variamente
São pelos Malabares admitidos.
A terra é grossa em trato, em tudo aquilo
Que as ondas podem dar da China ao Nilo.”

(”Os Lusíadas”, Luís de Camões)

Militar (1490? – Portimão, 1522). Pai de D. João de Mascarenhas, herói de Diu. Em 1508, participou na frustrada conquista de Azamor e, anos mais tarde, também esteve presente na conquista desta praça do Norte de África. Em 1512, com cem lanceiros, manteve-se em luta quase um ano em Safim. Participou no cerco de Arzila (1516). Foi governador de Safim (1516-1521) e empenhou-se na construção da fortaleza de Aguz (abandonada em 1525). Quando regressava de Marrocos para Portugal, já cansado de tanto ter lutado, naufragou na barra de Portimão.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Canto VII

35

“A um Cochim, e a outro Cananor,
A qual Chalé, a qual a ilha da Pimenta,
A qual Coulão, a qual dá Cranganor,
E os mais, a quem o mais serve e contenta,
Um só moço, a quem tinha muito amor,
Depois que tudo deu, se lhe apresenta:
Para este Calecu somente fica,
Cidade já por trato nobre e rica.

36

“Esta lhe dá com o título excelente
De Imperador, que sobre os outros mande.
Isto feito, se parte diligente
Para onde em santa vida acabe, e ande.
E daqui fica o nome de potente
Samori, mais que todos digno e grande,
Ao moço e descendentes; donde vem
Este, que agora o Império manda e tem.

37

“A Lei da gente toda, rica e pobre,
De fábulas composta se imagina:
Andam nus, e somente um pano cobre
As partes, que a cobrir natura ensina.
Dois modos há de gente, porque a nobre
Naires chamados são, e a menos digna
Poleás tem por nome, a quem obriga
A Lei não misturar a casta antiga.

(”Os Lusíadas”, Luís de Camões)

Vice-rei da Índia (? – 15 de Julho de 1746), foi segundo conde de Alva. Foi ministro na Junta dos Três Estados, governador de São Paulo e também vice-rei da Índia (1754-1756), onde veio a falecer, num conflito com os maratas.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Canto VII

32

“Esta província, cujo porto agora
Tomado tendes, Malabar se chama:
Do culto antigo os ídolos adora,
Que cá por estas partes se derrama:
De diversos Reis é, mas dum só
Noutro tempo, segundo a antiga fama;
Saramá Perimal foi derradeiro
Rei, que este Reino teve unido e inteiro.

33

“Porém, como a esta terra então viessem
De lá do seio Arábico outras gentes,
Que o culto Mahomético trouxessem,
No qual me instituíram meus parentes,
Sucedeu que pregando convertessem
O Perimal: de sábios e eloquentes,
Fazem-lhe a lei tomar com fervor tanto,
Que pressupôs de nela morrer santo.

34

“Naus arma, e nelas mete curioso
Mercadoria, que ofereça rica,
Para ir nelas a ser religioso,
Onde o profeta jaz, que a Lei publica;
Antes que parta, o Reino poderoso
Com os seus reparte, porque não lhe fica
Herdeiro próprio, faz os mais aceitos
Ricos de pobres, livres de sujeitos.

(”Os Lusíadas”, Luís de Camões)

Militar e político (1512? – 7 de Agosto de 1580). Ao comando da capitania de Diu (1545-1546), fez frente ao segundo cerco desta praça, atacada por Coja Sofar. Durante o episódio, contribuiu para um dos momentos mais gloriosos da presença portuguesa na Índia. Ao assédio de quase um ano, pôs termo o governador D. João de Castro. D. Sebastião fê-lo conselheiro de estado e governador do Reino. Facilitou a ascensão de Filipe I (II de Espanha) ao trono de Portugal.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

Canto VII

29

O Capitão o abraça em cabo ledo,
Ouvindo clara a língua de Castela;
Junto de si o assenta, e pronto e quedo,
Pela terra pergunta, e cousas dela.
Qual se ajuntava em Ródope o arvoredo,
Só por ouvir o amante da donzela
Eurídice, tocando a lira de ouro,
Tal a gente se ajunta a ouvir o Mouro.

30

Ele começa: “Ó gente, que a natura
Vizinha fez de meu paterno ninho,
Que destino tão grande ou que ventura
Vos trouxe a cometerdes tal caminho?
Não é sem causa, não, oculta e escura,
Vir do longínquo Tejo e ignoto Minho,
Por mares nunca doutro lenho arados,
A Reinos tão remotos e apartados.

31

“Deus por certo vos traz, porque pretende
Algum serviço seu por vós obrado;
Por isso só vos guia, e vos defende
Dos inimigos, do mar, do vento irado.
Sabei que estais na Índia, onde se estende
Diverso povo, rico e prosperado
De ouro luzente e fina pedraria,
Cheiro suave, ardente especiaria.

(”Os Lusíadas”, Luís de Camões)

Vasco da GamaNavegador, terá nascido em 1468 em Sines, segundo filho de Isabel de Sodré e do fidalgo Estêvão da Gama, o qual era alcaide-mor de Sines (sendo o filho primogénito Paulo da Gama).

Dado o seu estatuto, terá começado por enveredar pela carreira eclesiástica, que viria contudo a abandonar, optando pela carreira das armas, com D. João II a confiar-lhe diversas missões navais, nomeadamente em acções contra piratas nas costas portuguesa e marroquina, tendo eventualmente comandado uma armada que, em 1492, lutou contra corsários franceses.

Em 1497 – na sequência da missão de Bartolomeu Dias, que dobrara o Cabo da Boa Esperança – D. Manuel I ordena a expedição marítima à Índia, começando por convidar Paulo da Gama para comandar a frota; este, já doente, endossa o convite ao irmão Vasco da Gama, aceitando apenas comandar uma das naus.

D. Manuel confirmaria Vasco da Gama como capitão-mor a 7 de Julho de 1497, nas Cortes de Montemor. No dia seguinte, partia de Lisboa a frota para a expedição inaugural à Índia, constituída por: nau capitânia S. Gabriel; S. Rafael (comandada por Paulo da Gama); e Bérrio (Nicolau Coelho); com Gonçalo Nunes a comandar um navio de mantimentos.

Atingiria as ilhas de Cabo Verde a 27 de Julho, após o que a frota faria uma longa inflexão em arco, para Sudoeste, afastando-se da costa africana, antes de chegar a Santa Helena (a 8 de Novembro); o Cabo da Boa Esperança seria dobrado a 18 de Novembro de 1497.

Depois da passagem por Moçambique (no início de Março de 1498), Mombaça e Melinde (Abril) – onde foi contratado um piloto muçulmano, conhecedor das rotas de navegação no Índico –, a frota comandada por Vasco da Gama atingiria a Índia (Calecute) a 20 de Maio de 1498. Regressaria a Lisboa, onde foi recebido em triunfo, no final de Agosto, já depois de o seu irmão ter entretanto falecido em escala nos Açores.

Partiria para a Índia pela segunda vez a 10 de Fevereiro de 1502, liderando uma poderosa armada, de 20 navios; viria a instalar duas feitorias em Cochim e Cananor, assim inaugurando o império português no Oriente. Regressaria ao Reino, chegando a Lisboa a 10 de Novembro de 1503.

Como recompensa pelos seus feitos, Vasco da Gama receberia em doação real a vila de Sines, para além de uma tença anual de trezentos mil réis.

Em 1519, entretanto já casado com D. Catarina de Ataíde (de quem teria sete filhos, um dos quais, Estêvão da Gama, viria a ser Governador da Índia; tendo outro, Cristóvão da Gama, sido capitão de Malaca), ser-lhe-ia ainda atribuído o título de Conde da Vidigueira.

Já sob as ordens do Rei D. João III, empreenderia ainda uma terceira expedição à Índia, agora na qualidade de (segundo) Vice-Rei da Índia, partindo a 9 de Abril de 1524.

Idoso e enfermo, viria a falecer em Cochim, na Índia, três meses depois da chegada, a 25 de Dezembro de 1524, onde começaria por ser sepultado. Depois de transladado para Vidigueira, repousa – desde o século XIX – no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.

(Imagem via http://www.allposters.com/-sp/Great-Explorers-Vasco-da-Gama-Posters_i387058_.htm)

Bibliografia consultada

– “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

– “Vidas Lusófonas

Governador de Macau (? – século XVII). A 7 de Julho de 1623, tomou posse do cargo de capitão-geral e tornou-se no primeiro governador de Macau, já que Francisco Lopes Carrasco, que tinha sido nomeado governador, em 1615, não chegou a exercer as suas funções. Quando o capitão espanhol D. Francisco da Silva deixou Macau, o governador e os seus soldados ficaram incumbidos de vigiar a Fortaleza do Monte. Tarefa que cumpriram até à revolta do povo contra D. Francisco de Mascarenhas. As portas da fortaleza foram fechadas, impedindo a entrada dos soldados e os padres jesuítas atiraram sobre o governador. Apesar de ter tido um governo conflituoso, conseguiu completar o seu mandato de três anos, tendo sido sucedido por D. Filipe Lobo.

(via “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004)

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